29 agosto 2006

Fazendo pecar

Sempre vão acontecer coisas que fazem com que as pessoas caiam em pecado, mas ai do culpado! Seria melhor para essa pessoa que ela fosse jogada no mar com uma grande pedra de moinho amarrada no pescoço do que fazer com que um destes pequeninos peque.
Lucas 17. 1 – 2

Essa mensagem é um alerta, até mesmo contra mim mesmo. Eu não me vejo como muito apropriado porta-voz de uma palavra assim. Não me sinto muito são ou santo para falar coisas tão duras. Por isso sei que, mais do que qualquer coisa, essa é uma palavra que se dirige contra mim, pecador e mentiroso como sou.
Diante da santidade gloriosa do Senhor, não podemos ter muitas ilusões. Não podemos ter muitas ilusões de bondade ou boas ações. Temos que ter consciência de que somos, antes de tudo, pecadores que merecem nada menos que a mesma condenação da parte do Senhor. E rasgando o coração e confessando a culpa, somente podemos nos lançar aos pés do Senhor, dependendo de Sua graça e Seu perdão.
Depois de uma introdução em que confesso meu incômodo em falar algo como o que vou falar, devo confessar também que Deus me conduziu a falar isso. Sem dúvida.
No início do ano passado, vivi uma experiência bem interessante, que devo ter partilhado nesse espaço. Era o responsável pelo estudo junto aos adultos no retiro de carnaval. Tentando levar algo que me dissesse respeito – daquelas coisas que Deus estava fazendo comigo – resolvi estudar com o grupo capítulos específicos de Celebração da Disciplina, de Richard Foster. Queria estudar oração e meditação, tentando dar à temática o caráter prático que Foster aplica no seu livro.
Para resumir o relato, a reação de alguns líderes da igreja me assustou quando propus exercícios de meditação. Como se fossem criações do próprio demônio. O que quero destacar aqui é que o argumento usado para me impedir de fazer o exercício naquela manhã, pelo líder em questão, é que tínhamos no grupo um jovem casado com pouco tempo de igreja. Ele seria imaturo para vivenciar aquela experiência. A desculpa era preservá-lo.
O efeito, no entanto, foi o oposto. Aquele rapaz por pouco, naquele dia, não deixou a igreja. Ele ficou decepcionado com a maneira grosseira e prepotente como eu fui interrompido pelo referido líder da minha antiga igreja. Foi pouco, foi uma ação da graça de Deus, que permitiu que aquele rapaz e sua família permanecessem na igreja naquele momento.
Recentemente, fiquei sabendo, tendo sido informado pelo próprio, que ele agora era Testemunha de Jeová. Procurando saber o que acontecera, descobri que aquela ação maligna que tentou afastá-lo de Jesus no ano passado, finalmente obteve sucesso. Levado por boatos infundados, um outro líder daquela igreja deixou de falar com o jovem – ambos eram colegas de trabalho. O resultado é que o salão do Reino o recebeu bem. E hoje ele diz que encontrou a verdade.
Sempre vão acontecer coisas que fazem com que as pessoas caiam em pecado, mas ai do culpado! Seria melhor para essa pessoa que ela fosse jogada no mar com uma grande pedra de moinho amarrada no pescoço do que fazer com que um destes pequeninos peque. Nada impede que eu e você nos ponhamos no lugar desses líderes que foram responsáveis pelo pecado e desvio daquele jovem. Eu morro de medo disso, devo falar com clareza. Eu morro de medo de ser o responsável por alguém que se perca, como essa família. Porque as palavras de Jesus contra esses são duríssimas. Eu temo por mim, caso caia nesse pecado, mas temo muito mais pelo resultado das ações de líderes e igrejas que se tornam responsáveis pelo afastamento e pecado destes pequeninos. Se os que se desviam são culpados de se afastarem, mais culpados me parecem ser aqueles que os lançam nessa situação: seria melhor para essa pessoa que ela fosse jogada no mar com uma grande pedra de moinho amarrada no pescoço.
Eu falei que uma mensagem dessa é desconfortável para um pecador como eu. Eu sei do risco que corro de ser, eu mesmo, alguém como esses líderes. Eu sei que posso me pôr, facilmente, sob o juízo do Deus vivo. Mas você também pode. Pode, inclusive, já ter agido assim antes. É tempo ainda de se arrepender e de se reconhecer o pecador que é. É o momento de ter a postura daquele publicano, que nem levantava o rosto para o céu. Batia no peito e dizia: “Ó Deus, tem pena de mim, pois sou pecador!” (Lc. 18. 13), não a postura dos fariseus que faziam discípulos e, depois, os tornam duas vezes mais merecedores do inferno do que eles mesmos (Mt. 23. 15). É hora de buscar a graça e o perdão de Deus. É o momento de se chegar a Ele. Antes que não seja mais possível.

27 agosto 2006

Sobre Jonas

Assim como o profeta Jonas foi um sinal para os moradores da cidade de Nínive, assim também o Filho do Homem será um sinal para a gente de hoje.
Lucas 11. 30

Quando eu leio esse trecho do evangelho, um detalhe me chama muita atenção. Apesar de ser Jonas o profeta do povo de Deus e ser anunciado que é um sinal dele que Jesus dará, é o povo de Nínive quem se levantará para julgar aquela geração de judeus (Lc. 11. 32), porque se converteu diante da pregação do profeta.
A história do profeta Jonas reproduz o grande conflito da fé que perpassa toda a história da revelação: o conflito entre religiosidade e fé. No Antigo Testamento, a história de alguns livros nos remetem a esse conflito entre os religiosos legalistas e aqueles que entenderam o valor da graça e da fé em Deus. Um exemplo disso é pensar no livro de Jó. Enquanto os legalistas judeus defenderiam em diversos momentos que o ser judeu e o cumprir a Lei seriam condições únicas para a salvação e a vida com Deus – enquanto o sofrimento somente poderia ser entendido como castigo contra os ímpios –, Jó é um reconhecido servo fiel ao Senhor, mesmo não sendo judeu e sofrendo terríveis coisas ao longo de seu livro. Ser servo de Deus não é, então, exclusividade de um povo que se conhece como Seu povo, nem cumprir a Sua Lei pode ser entendido como garantia de vida boa.
Jonas, como Jó, fala-nos dessa dimensão de conflito entre a vida de fé e a religião. Jonas é o profeta do povo de Deus que tem a ilusão de que pode determinar quem pode ou não pode servir a Deus, tal qual todos os legalistas da história. Ele se recusa a ir pregar a Palavra de Deus aos ninivitas porque os considera indignos de ouvir a mensagem do Senhor – muito mais de se converterem. Ele é tão impregnado dessa mentalidade que pede a morte quando constata a conversão do povo inimigo, no fim do livro (Jn. 4. 2 – 3).
Muitos, no seio da igreja, têm se comportado como verdadeiros profetas no espírito de Jonas. Talvez não sejam capazes de admitir publicamente, mas definem em seus corações e em suas práticas que determinados tipos de pessoas não podem nem nunca farão parte do povo de Deus. Nem que para isso a alternativa seja deixá-los fora do círculo de evangelização da igreja.
Lembro de uma ocasião em que estava na Escola Dominical de uma igreja onde os jovens definiam que determinados pecadores de dentro e de fora da igreja jamais fariam parte daquela comunidade. Arvorados no espírito do profetismo legalista, o grupo de jovens determinavam quem podia e quem não podia ser alvo da graça de Deus.
No livro de Jonas a grande lição é a nós mesmos, para que não nos sintamos mais especiais, por sermos parte de um povo que leva o nome de Deus. Porque as grandes lições de fé vêm daqueles que são externos a esse povo. Primeiro, Jonas, o santo profeta do povo de Deus, é um grande desobediente, quando, em vez de abrir mão dos preconceitos, prefere fugir a obedecer à ordem do Senhor.
Em seguida, ainda no barco, ele dorme enquanto todos pedem pelas suas vidas diante da tempestade que abate a embarcação. Ele dorme, enquanto os que não são parte do povo de Deus oram. Depois, para descobrir a causa do castigo, ele se confessa ao grupo e diz que o jeito é jogá-lo ao mar, como um sacrifício para saciar a ira de Deus. Mais uma vez, a reação daqueles homens que não conheciam a esse Deus e não eram parte do Seu povo – ao contrário de Jonas – parece mais adequada. Eles relutam em fazer um sacrifício humano. Somente cedem quando constatam que Jonas era o profeta do Deus vivo, filho do Seu povo. Ou seja, era mais provável que ele, não os demais, soubesse o que era preciso para saciar a ira de Deus naquele momento. Ainda assim, não o jogam do barco sem uma oração de clemência: Ó Senhor Deus, não nos castigues com a morte por tirarmos a vida deste homem. Pois és tu, ó Senhor, quem está fazendo isso, e o que está acontecendo é da tua vontade (Jn. 1. 14).
Jonas foi incapaz de orar pelo bem coletivo quando dormia no barco, mas ao ser tragado pelo grande peixe, ora pela própria vida. Depois de três dias, o peixe o cospe na praia e ele se vê obrigado a ir pregar em Nínive. Não demonstra qualquer arrependimento nem quanto aos preconceitos que o levaram a essa situação, nem quanto à fuga em desobediência. Ao contrário, o povo de Nínive se arrepende de sua condição pecadora, se converte e Deus os perdoa. O profeta do povo de Deus não se arrepende nem muda de atitude, enquanto um povo inteiro, que não leva o nome do Senhor, nos ensina mais em sua atitude de arrependimento e conversão.
O sinal de Jonas, segundo o que fala Jesus, é o arrependimento dos ninivitas. Essa é uma palavra contra os Jonas dos dias de Jesus, os fariseus legalistas, que não admitiam que pecadores, publicanos e prostitutas pudessem ser alvo do amor de Deus. São esses, junto com os ninivitas, que se levantaram para julgar fariseus e legalistas de toda espécie. Às vezes, ser povo de Deus não garante outra coisa, senão o juízo. Às vezes, as atitudes de adorador podem ser encontrados em gente que muitas vezes não queremos no nosso meio, em nossas igrejas.
O sinal de Jonas é a conversão dos ninivitas. Mais do que isso, é mostrar aos judeus legalistas – e aos muitos cristãos legalistas entre nós – que a salvação não é propriedade exclusiva de ninguém. Ela está disponível, gratuitamente, em Jesus, a quem se achegar para beber a Água Viva que só Ele dá.

25 agosto 2006

Até que passem as calamidades


“Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia, pois em ti a minha alma se refugia; à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades.” (Salmo 57:1)

Todos somos afligidos por tempos difíceis. Tempos em que somos bombardeados por crises. Podem ser crises emocionais, financeiras, familiares, espirituais, profissionais... Na verdade a qualidade das crises não são importantes, o que importa é que todos os seres humanos podem ser vez outra atingidos por calamidades. Como reagir diante das calamidades? Como se posicionar quando passamos por crises? De onde buscar forças para sairmos incólumes do vendaval? Vencedores da batalha?

A Bíblia nos ensina que podemos contar com as misericórdias divinas. Deus continua fiel à sua promessa e a cada novo alvorecer, a cada novo dia, quando ainda o sol não fez luzir seus primeiros raios, suas misericórdias já se renovaram. Jeremias, o profeta, passou por momentos difíceis. Seu testemunho é que ele foi o homem que viu a aflição. Mas em meio ao caos, à confusão, aos tormentos e calamidades; fez um exercício que lhe devolveu esperança para viver. Trouxe à memória o que lhe devolveu a esperança: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã.” (Lm. 3:22-23)

Depois, ensina-nos as Escrituras que temos refúgio e abrigo. Quando estamos num temporal, quando o brilho cintilante dos relâmpagos cortam o céu e o barulho aterrorizante dos estrondos dos trovões fazem a alma temer, devemos procurar um refúgio e um abrigo. Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na tribulação, nossa torre forte, nosso abrigo no temporal, o Senhor é a nossa rocha, o rochedo da nossa salvação, nosso escudo... Pois no dia da adversidade ele me guardará protegido em sua habitação; no seu tabernáculo me esconderá e me porá em segurança sobre um rochedo. (Sl. 27:5).

Então nos confortamos no fato de que as calamidades passam. Não perduram as lutas. Não permanecem, nem se perpetuam. Não há crise que seja irreversível. Em breve o temporal assustador cessará e haverá bonança. Então estaremos seguros e o nosso coração fortalecido. Saíremos mais fortes e mais vigorosos da crise. Não desista, não se desespere, não perca a paciência, não entre no quarto escuro da alma... Pois, em Cristo, é Tempo de Esperança... até que passem as calamidades!
Jean Douglas Gonçalves

19 agosto 2006

Incredulidade

Então Pedro disse: - Se é o Senhor mesmo, mande que eu vá andando em cima da água até onde o Senhor está. – Venha! – respondeu Jesus. Pedro saiu do barco e começou a anda em cima da água, em direção a Jesus. Porém, quando sentiu a força do vento, ficou com medo e começou a afundar. Então gritou: - Socorro, Senhor! Imediatamente Jesus estendeu a mão, segurou Pedro e disse: - Como é pequena a sua fé! Por que você duvidou?
Mateus 14. 29 – 31

Você já deve conhecer uma outra ilustração que nos fala sobre fé e confiança em Deus. Possivelmente, ao ler a história acima que envolve Pedro e Jesus, você se lembra daquela cena emblemática de Indiana Jones e a última cruzada em que o herói precisa atravessar um abismo e, ao dar o primeiro passo, descobre haver uma ponte oculta em uma ilusão de ótica. Você já pensou, como eu, tantas vezes, que a incredulidade nos paralisa e nos faz perder aquilo que Deus tem reservado para nós. Já imaginou se, lá no Êxodo, na hora em que Deus desse a ordem para o povo marchar, Moisés duvidasse? Nós não teríamos o relato de tão espantoso milagre: o mar se abriu.
Se você, como eu, conhece e lembra de tantas histórias semelhantes, deve conhecer também uma outra que relato a seguir. Conta-se que um alpinista, ao se ver dependurado em um pico sem nenhuma visibilidade após ter escorregado, pediu a ajuda de Deus e disse: Deus socorre-me! Deus respondeu:- Você realmente crê que eu possa salva você? O alpinista respondeu: - Sim, eu creio. Deus, então, mandou que ele cortasse a corda. O alpinista pensou muito e segurou ainda mais forte a corda. Morreu, congelado, a dois metros do chão.
Eu e você já tivemos vitórias e bênçãos trazidas pelo Senhor que nos foram conquistadas porque em algum momento de prova não duvidamos e nem perdemos a fé. Mas tenho a impressão que os nossos momentos “Pedro” devem ter sido mais numerosos.
Talvez o principal tipo de problema que nos acomete dia a dia são os problemas com falta de fé; é a incredulidade. Duvidamos da presença de Deus em nossa vida, da graça de Jesus, do amor do Pai, do perdão e da vida que nos vêm do Senhor. Tememos o desconhecido e nos afligimos no meio de lutas reais, mas essas coisas só são multiplicadas em seus efeitos porque duvidamos da grandeza, da existência e da magnitude da obra do Senhor é nossa vida.
São os momentos “Pedro”. Assustado em descobrir que Jesus vinha até eles no barco, andando por sobre as águas, Pedro desafia o Senhor a provar que é Ele: - Se é o Senhor mesmo, mande que eu vá andando em cima da água até onde o Senhor está. Jesus permite. Pedro começa a andar sobre a água. Até que pára de olhar para a grandeza do Senhor que deu a ordem e pensa nas dificuldades e problemas à sua volta. Quando sua atenção recai sobre o mundo à sua volta, Pedro duvida e afunda.
Assim é conosco. O mundo à nossa volta não é muito favorável. Todas as coisas assustam: violência, guerras, fome, inseguranças e incertezas em geral. Olhamos em volta e parece que tudo está se desfazendo. Até a nossa fé se desfaz nesse contexto. É fácil perdermos a fé e os seus efeitos em um mundo como o nosso.
Contra o problema da falta de fé precisamos de um toque das mãos do Senhor. Precisamos da presença do Senhor. Porém, precisamos, na verdade, de algo diferente. O Senhor, o Seu toque e a Sua presença já estão aqui, como Jesus estava naquele lago, em pé, diante do barco e de Pedro. Precisamos ter olhos para vê-Lo ali, diante de nós, nos chamando para o Seu lado, nos fazendo andar por sobre os nossos problemas. Precisamos de uma visão além do alcance das coisas que nos cercam. Precisamos de olhos que vejam o Deus real e invisível que nos ama e nos chamou a seguí-Lo, com fé e pela graça.

18 agosto 2006

Fantasmas

Quando os discípulos viram Jesus andando em cima da água, ficaram apavorados e exclamaram: - É um fantasma! E gritaram de medo.
Mateus 14. 26


Alguns anos atrás, quando estava no seminário, o professor de hebraico, fatalmente doente, estava internado e necessitado de receber doações de sangue. Eu nunca havia doado sangue, especialmente pelo verdadeiro e descontrolado pavor de agulhar. Por mais que racionalmente eu possa compreender que aquele ato não me causará problema algum, o medo irracional me impedia de agir.
Na doença do professor eu percebi a estupidez do meu medo. Eu temia algo que não existia: algum risco de vida ou dor com uma agulha em meu braço ou com a coleta de sangue. Resolvi enfrentar meu medo. Fui fazer a doação e preveni ao médico do posto de coleta que, devido ao meu medo, era provável que passasse mal ou desmaiasse. Mesmo que eu e o médico estivéssemos racionalmente certos de que meu medo se fundamentava em algo que não existia, por pouco não desmaiei naquele dia.
Meu medo de agulhas é tão grande que me lembro de uma ocasião, início da adolescência, em que um médico me solicitou um exame de sangue para descartar a possibilidade de que as dores enormes que vinha sentindo nos pés fossem causados por febre reumática. Fui até o laboratório para coletar o sangue e voltei para casa sem fazê-lo. Meu medo do que não existia de verdade me paralisou naquela manhã.
Meu medo irracional se dirigia a algo que, de real, não existia. Hoje eu ainda temo um tanto agulhas, mas já sou capaz de enfrentar o medo e coletar sangue e tomar anestesias. Mas ainda não tive coragem de doar sangue de novo.
Naquele barco açoitado pelo vento e pelas ondas – um problema bem real enfrentado pelos discípulos – surge um problema imaginário: os discípulos gritam de medo porque viram um fantasma!
Muitas vezes os problemas que nos afligem não têm base concreta – e nós sabemos disso. Muitas vezes começamos a perceber que eles são criados por nossa cabeça e nosso coração. Com medo, vemos coisas que não existem, ouvimos vozes irreais, tememos o que deveríamos louvar. O tal fantasma que tanto assombrou os discípulos era o Mestre que vinha em socorro, andando sobre as águas!
As vezes a atmosfera de temor e medo nos sufoca tanto que tememos – vemos fantasmas – quando o próprio Deus intervém em nosso favor, como no caso dos discípulos. Nós sabemos ou vivemos histórias como as de Gideão, assustado com o tamanho da responsabilidade que Deus coloca em suas costas, temeroso do fracasso da missão. Nós já tivemos medo de enfrentar as soluções que foram trazidas por Deus para os problemas de nossa vida, como se víssemos fantasmas – medo de onde não deveríamos tirar medo.
Algo assim aconteceu comigo recentemente quando a Petrobras me convocou e eu soube que deveria vir para o Rio de Janeiro. Mesmo ciente que aquilo era resposta da oração e era ação milagrosa do Senhor, eu tive os meus fantasmas. Afinal, sair de perto da família, morar em uma terra estranha, eram desafios assustadores – mesmo que hoje saiba que não se firmavam em nada de concreto.
O medo do desconhecido se enfrenta com fé. Como teve fé o nômade Abrão ao atender o chamado divino para deixar tudo para trás e seguir uma voz que lhe guiava a uma terra que nunca vira – e que, dizia a voz, seria dele e de sua descendência.
O medo do desconhecido se enfrenta lançando-se ao cuidado do Deus amoroso que nos chamou a uma vida verdadeira e real – fé em Jesus e comunhão com o Deus Triúno. Assim, poderemos não correr o risco de ver fantasmas onde, na verdade, está a presença amorosa e cuidadosa do Senhor.
Daniel Dantas é mestre em Jornalismo e funcionário de carreira da Petrobrás

Procurando uma casa de Simão

Naquela cidade, morava uma mulher de má fama. Ela soube que Jesus estava jantando na casa do fariseu. Então, pegou um frasco feito de alabastro, cheio de perfume, e ficou aos pés de Jesus, por trás.
Lucas 7. 37 – 38


Você já deve ter ouvido isso, mas vale repetir. A mulher que invadiu a casa de Simão, o leproso, lavando os pés de Jesus com suas lágrimas, beijos e o caro perfume que carregava, era uma condenada. Prostituta, a ela era impossível sair daquela vida mesmo que quisesse, uma vez que não teria dinheiro algum para se purificar, segundo os ritos da religião judaica. Como prostituta, teria ganho o suficiente, mas seu dinheiro – ilícito – era amaldiçoado e jamais poderia pagar-lhe a pureza ritual. Mesmo que os homens com quem fosse para a cama fossem os maiorais da religião, ela mesma jamais deixaria de ser uma excluída da religião e da sociedade dos judeus.
A religião mata. Ela escraviza. Ela impede a liberdade. Essa mulher é nossa testemunha disso. Nenhum de nós é puro o suficiente para se achegar a Deus. Nem mais santo do que essa mulher pecadora. Nem melhor que ninguém. Mas assumimos o parâmetro religioso que nos faz achar que, por religiosos sermos, melhores somos que os demais. Achamos que a religião – que, em verdade, escraviza e mata – é nossa porta de liberdade: ao cumprirmos seus ritos e participarmos de seus cultos, ao assumirmos sua linguagem, ao nos inteirarmos de seus sentidos, achamos que conseguimos estar mais perto de Deus. Quando pode ser que exatamente oposto seja o caminho que tenhamos tomado.
Homens santos foram para cama com aquela mulher. E se achavam melhores que ela, a ponto de fechar-lhe as portas à salvação – como se ela, a salvação, fosse uma exclusividade religiosa. É triste ver que essa mentalidade de juízo está na mente do próprio Simão, que leproso, segundo o cognome, era tão impuro e rejeitado quanto a prostituta. A visão religiosa, elitista, ritualista estava em alguém que também era sua vítima: Quando o fariseu viu isso, pensou assim: “Se este homem fosse, de fato, um profeta, saberia quem é esta mulher que está tocando nela e a vida de pecado que ela leva” (Lc. 7. 39). Como se a cultura da exploração usasse os explorados para se perpetuar. E, assim, Simão, além de leproso, era fariseu.
Se dependesse da religião para ser salva, a prostituta jamais encontraria paz. Mas ela ouviu falar de Jesus. Nenhum evangelista nos conta como ela ouviu falar. Nenhum nos diz como ela entrou naquela festa privada em que o leproso recebia Jesus. O evangelho só nos mostra uma mulher cônscia de seu pecado e de sua incapacidade de encontrar a salvação por si só. O evangelho apresenta uma mulher que encontra a paz de Jesus, aos pés de Jesus.
O desafio que me foi posto hoje é de me saber como essa prostituta. Eu sou como ela. Pecador impuro irremediável segundo os parâmetros da religião. Desesperado para ser reconstruído, por uma nova chance na vida. Profundamente cônscio de meu afastamento de Deus, ao mesmo tempo em que tremendamente sedento por uma relação mais plena e íntima com Jesus. Alguém que O quer buscar e encontrar. Que já descobriu que é mais fácil achá-Lo em mais improváveis lugares, uma vez que nos lugares que dizem tê-Lo, nunca mais O viu. Preciso encontrá-Lo de novo. E talvez tenha de encontrá-Lo na casa impura de Simão. Tendo Seus pés ungidos pelas lágrimas de uma impura prostituta. Preciso, em suma, de um reencontro com Jesus. Estou ferido.
E lamento perceber que eu não sou o único ferido pela Igreja/Religião. Muitos de nós carecem de um encontro renovador com Jesus. Estive em Fortaleza esta semana e o que mais ouvi foram os lamentos de feridos, machucados e excluídos da Igreja que se chama cristã. Muitos irmãos meus na mesma dor e no mesmo sofrimento. Muitos decepcionados com a religião que mata. Ansiosos por um reencontro com Jesus, já que a Igreja os tirou da comunhão com Ele. Muitos como aquela prostituta – desesperada por Jesus, excluída pela religião.
Há uma Igreja na qual devemos crer. Ela não tem paredes, templos ou placas. Ali, Jesus está festejando com pecadores terríveis, como eu e a prostituta. Estou procurando Jesus em alguma casa de Simão.


Daniel Dantas é mestre em Jornalismo e funcionário de carreira da Petrobrás

16 agosto 2006

Prisioneiros da Esperança


“Voltai à fortaleza, ó presos de Esperança...” (Zacarias 9.12)


Não é fácil ter esperança num mundo onde as injustiças são tão gritantes. Somos tomados por um pessimismo que tortura a alma.. Ler os jornais ou assistir aos noticiários é uma tarefa árdua e que exige coragem. Coragem para não se abater diante das inúmeras guerras que se multiplicam pelo mundo. Coragem para não ser tomado por um desespero diante da violência que grassa pelas ruas de nosso país. Coragem para acreditar que vale a pena cumprir meus deveres de cidadania e ir às urnas, afinal há gente honesta no cenário político do país. Coragem para não se deixar enlouquecer diante da possibilidade da falta de água potável para alguns poucos anos. Coragem para crer que a mãe que abandonou o seu filho recém-nascido numa lixeira estava tomada de desespero, mas não porque sua alma minguou desprovida de toda a bondade e ternura. Coragem para simplesmente viver...

Quando o índice de esperança na alma inicia um processo de declínio, faço imediatamente um exercício que fabulosamente me recobra o ânimo. Reúno os textos bíblicos que me acompanham pela jornada da vida cristã por alguns anos. Então, descortino minha mente com a doce e inigualável idéia profética de que em tempos de aflição “a esperança volta quando penso no seguinte: o amor do Deus Eterno não se acaba, e a sua bondade não tem fim. Este amor e esta bondade são novos todas as manhãs...” (Lm. 3:21-23, Linguagem de Hoje). Então, um facho de luz para os meus pés cansados providencia um caminho de trilhas retas e justas. Meus olhos já enxergam possibilidades! A palpitação do meu coração diminui e posso prosseguir.

Prossigo para a poesia apostólica e para a imbatível certeza de que a esperança permanece, ladeada pela fé e guiada pelo amor (1 Co 13:13). E as páginas seguintes expõem a tela que “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Co 15:19). Assim, entendo que minha momentânea infelicidade e pessimismo resultam do foco errado. E embora lute pela não alienação. Lute para que minha alma não se anestesie diante das dores do mundo, percebo que preciso voltar meus olhos para o futuro e para o fato de que “esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pd. 3:13). Esta é a “nossa esperança de salvação” (1 Ts. 5:8, Linguagem de Hoje).

E, então, mesmo que “esperando contra a esperança” (Rm. 4:18), sigo o exemplo do patriarca Abraão e creio. Creio que Deus é poderoso para vivificar uma sociedade amortecida pelo pecado e despertá-la para “Cristo Jesus, nossa esperança” (1 Tm. 1:1). Para que mesmo diante das maiores e mais atrozes injustiças não desviemos nosso olhar da “esperança da glória” (Cl. 1:27).

Somente assim minha alma volta ao seu sossego, adentro à fortaleza e, novamente, aprisiono-me à esperança!

Rev. Jean Douglas Gonçalves

11 agosto 2006

VIDA DE ESTUDANTE...



"Pois eu vos dou boa doutrina; não abandoneis o meu ENSINO." Pv 4.12


Hoje se comemora o dia do estudante. Uma data importante. Afinal, todos já foram, são, ou um dia serão estudantes. E são várias as formas de ser um estudante. Alguns são atentos, outros, nem tanto. Alguns gênios aplicados, outros, apenas gênios... Alguns esportistas, outros, torcedores... Mas todos estudantes. Por mais que se tente, não há como negar o desejo por possuir o saber. Saber sobre como foi construído o passado, como forma de se entender o presente, e descobrir, assim, as possibilidades para um futuro melhor! Assim, de uma forma ou de outra, todos somos estudantes. Mas ser estudante não é só o se entregar na difícil tarefa de estudar (e haja esforço!), mas é também se abrir para novas realidades. Afinal, ninguém nasce sabendo tudo. E as descobertas nos levam a mundos desconhecidos. Algumas vezes as expedições se fazem como num rali, cheia de curvas perigosas, mas também com paisagens deslumbrantes, maravilhosas, como o é a amizade. E não há nada tão importante para uma vida adulta saudável que as amizades do tempo de escola. Elas tornam esta etapa, e suas muitas obrigações, algo mais prazeroso. Há as amizades com os colegas de sala, mas há também a amizade com os mestres. Com eles aprendemos a andar pelas trilhas pelas quais chegaremos bem ao destino final. Por isto hoje é um dia tão legal! Contudo, não poderia terminar sem falar de algo muito importante. Não há descobertas verdadeiras, amizades duradouras, sabedoria para todas as áreas da vida, sem o estudo da Palavra de Deus, sem a busca pela sabedoria que vem do alto, e sem uma amizade neste tempo de nossa vida com o Criador, Senhor, e Salvador de nossas vidas que é Jesus Cristo. Por isto, estudem, divirtam-se, criem e nutram amizades, vivam verdadeiramente uma vida de estudante.



Cleber Batista Gouveia, servo de Jesus Cristo.


09 agosto 2006

Quando o sucesso se tornou em fracasso




"E que mais direi? Pois me faltará o tempo, se eu contar de Gideão, de Baraque, de Sansão, de JEFTÉ, de Davi, de Samuel e dos profetas;" Hb 11.32

Jefté é alistado entre os heróis da fé. O autor da carta aos Hebreus o coloca entre Sansão e Davi, fazendo-lhe uma alusão breve, mas tão nobre quanto de seus companheiros (Hebreus 11.32). O relato bíblico sobre ele também é breve. Detém-se com Jefté não mais do que quarenta e sete versículos, pouco mais de um capítulo das Escrituras (Juízes 11.1-12-7). Mas é o bastante!
A vida de Jefté se move em meio a desencontros. Nasce de um relacionamento ilegítimo de Gileade. Sua mãe é uma prostituta. Por isso seus irmãos o expulsam de casa. Mas por ter uma postura e conduta de guerreiro, logo se destaca tornando-se líder de uma turba. Homens de uma moral questionável se unem a ele, enxergaram-no como Israel o veria mais tarde: um líder guerreiro.
Depois de algum tempo, amonitas e israelitas travam uma guerra. Um convite inesperado é feito a Jefté: “Vem e sê nosso chefe, para que combatamos contra os filhos de Amom.”. Tal recado não seria tão surpreendente, se não tivesse partido dos anciãos de Gileade. Jefté primeiramente resiste. Mas em seguida vê na situação uma oportunidade de auto-afirmação e vingança contra os que o rejeitaram. Se vencesse os amonitas se tornaria por “chefe sobre todos os moradores de Gileade” (v.8). E assim, o filho de uma prostituta, o bastardo da casa de Gileade, teria sua honra vingada. Jefté aceita!
“Então, o Espírito do Senhor veio sobre Jefté e este (...) passou contra os filhos de Amom.” (v.29). Apesar disso, inseguro, faz um voto na esperança de assegurar a vitória: “Se, com efeito, me entregares os filhos de Amom (...) quem primeiro da porta de minha casa me sair ao encontro (...) esse será do Senhor, e eu oferecerei em holocausto” (vv. 30-31). Foi essa a sua calamidade!
Jefté arruinou com os amonitas: “...foi mui grande a derrota. Assim foram subjugados os filhos de Amom ...” (v.33). Voltou vitorioso para casa. Mas na mesma proporção foi a derrota quando sua filha única saiu-lhe ao encontro, festejando como uma menina, alegremente, o sucesso do pai.
Permita-me dizer que este capítulo me estremece a alma, impressiona-me!
Primeiro porque Jefté perdeu a grande chance de ser melhor que Gileade, seu pai. Jefté até tentou demonstrar isso, mas no evento errado e pelas razões erradas. A Bíblia diz que era ele “homem valente” e que teve uma experiência com o Espírito do Senhor. Entretanto, como Gileade, Jefté também sacrificou sua família. Como Gileade, Jefté também a traiu!
Depois, porque Jefté absolutizou a vitória na guerra e relativizou o êxito no lar. Seu sucesso na guerra dependeu de seu fracasso em casa. Pode ser que a vida profissional, econômica, acadêmica... seja um alto monte, mas do que adianta se a família é um vale. Se há traição, se os filhos se perdem, se a amargura domina, se a maldição se instala... do que me adianta ganhar o mundo inteiro e perder minha família.
Por fim, porque Jefté descobre muito tarde que sua maior vitória foi na verdade seu maior fracasso. Quando vê a filha vindo ao seu encontro diz: “Ah! Filha minha, tu me prostras por completo; tu passaste a ser a causa da minha calamidade, porquanto fiz voto ao Senhor e não voltarei atrás.” (v.35). Há passos na vida que se tornam irreversíveis. Há caminhos que depois de algumas milhas trilhadas, seu retorno é intransitável.
Assim, a história de Jefté é a história da calamidade de quando o sucesso se tornou em fracasso!

Rev. Jean Douglas Gonçalves

06 agosto 2006

A vida numa balança!


Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?


A pergunta de Jesus coloca nossa vida na balança analítica! O que realmente tem valor? Jesus diz que a vida de uma pessoa vale mais que tudo aquilo que valoramos neste mundo! Isto posto, uma pessoa pode fazer um investimento com o qual consiga angariar os recursos do mundo todo, mas, se vier a perder-se eternamente, terá feito um péssimo investimento.
Infelizmente o ser humano é péssimo no que tange à matemática da vida, haja vista que investi-se muito nos valores que se perdem e valoriza-se pouco, ou nada, os valores eternos. Gasta-se mais tempo tentando amealhar as riquezas que têm menos valor. Isto reflete o estrabismo da visão humana, causada pelo pecado.
O miolo da alma tem que ser Deus mesmo. Nenhum conteúdo religioso pode indenizar os prejuízos causados pela falta de comunhão com o próprio Deus. Se Deus não for o centro de nossa experiência e a excelência de nossos relacionamentos, então, estamos envolvidos com trivialidades que jamais satisfarão as carências profundas de nossa alma. Sem Deus, vivemos no auto-engano e nos tornamos especialistas na criação de subterfúgios!
A falta de intimidade pessoal com Deus é a causa da insatisfação dominante do coração humano. É por isso que, muitas vezes ficamos mais sedentos com a secura de nossa religiosidade. Entramos e saímos dos encontros religiosos sem gozarmos da intimidade da presença de Deus. O filósofo Martin Buber afirmava que “Nada tende a mascarar tanto a face de Deus como a religião; ela pode tornar-se uma substituta para o próprio Deus”. Um cadáver lembra uma pessoa. Ali está o corpo em que viveu alguém, mas o finado não tem expressão. Não há diálogo com morto. Religião sem intimidade pessoal com Deus é funeral. E defunto não cresce, não evolui nem causa progresso. Muita gente se ilude com suas práticas religiosas supondo que este ritualismo mitiga as carências de sua alma. O salmista se perturba com o cerimonial religioso do seu tempo, com o derramar de sua alma, com o festejo da multidão em gritos de louvor na procissão alegre em busca da Casa de Deus. Havia todo um aparato estonteante de motivações religiosas, mas a sua alma encontrava-se abatida, e ele gritava: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?” E sua resposta evidencia o grande problema: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu”. (Salmo 42.5). Havia muita religiosidade em sua experiência, mas Deus estava ausente do seu louvor. A chupeta acalenta o choramingo da criança, mas não abranda a fome. Nada neste mundo é capaz de satisfazer plenamente a necessidade pessoal de Deus. Muitos expedientes podem atenuar a crise, mas não satisfazem o vazio da alma.
Que adianta ao homem gastar todo o seu tempo e empregar todos os seus esforços no envolvimento com o trabalho, estudo, religião e lazer, não levando em conta a seriedade da salvação eterna de sua alma? Esta é uma questão de prioridade. Ninguém pode desconsiderar este assunto e viver com total significado. Jesus mostrou que, a realização do ser humano passa em primeiro lugar pela preferência do reino de Deus. “Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. (Mateus 6.33).
A salvação eterna e a comunhão íntima com Deus são assuntos que fazem parte da primazia de uma agenda inteligente. Uma pessoa inteligente é aquela que sabe fazer o julgamento correto dos fatos. Não podemos reputar como inteligente alguém que é desatento para os assuntos ligados com a salvação eterna da sua alma. A sabedoria abre os olhos tanto para as glórias do céu quanto para o vazio da terra. Por isso, vale a pena ponderar os enfoques e as ênfases de nossa existência, para não cairmos na armadilha de nos envolvermos apenas com as coisas de menor valor. Afinal, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?


Ézio Martins de Lima, rev.

04 agosto 2006

Sentir saudades faz bem...


"Pois Deus me é testemunha de que tenho SAUDADES de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus." Filipenses 1. 8


O texto acima fala de algo que é bom sentir... algo que nos traz à memória as pessoas as quais amamos, levando-nos a vivenciar novamente os momentos maravilhosos de nossas vidas. Por isto, gostaria de colocar hoje uma poesia de minha autoria... Ela revela aquilo que sinto pelos que amo... Saudade existe para quem sabe ter, já disse certa vez um poeta. Acrescento que esta só existe para quem ama, verdadeiramente ama! Segue, portanto, a poesia:
“A saudade de alguém por alguém sempre fará bem! Fará com que este alguém esteja bem... Sempre bem perto, dentro do coração. Fará com que este alguém esteja bem... Sempre bem vivo em nossa mente. Fará com que este alguém seja bem... Sempre bem vindo ao nosso lar. Fará com que este alguém, e o alguém que tem saudades, sempre se sintam bem, pois nas suas vidas, sempre existira saudade de alguém!”


Rev. Cleber B. Gouveia.

03 agosto 2006

Alegria que vem do servir...


...”E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele GRAÇAs a Deus Pai.” Colossenses 3.17


Durante todo o dia de hoje, quinta feira, dia 3 de agosto, passei redigindo textos e mais textos para serem apresentados aos pais e alunos do Colégio no qual sou capelão, comunicando sobre o retiro espiritual que será realizado para os mesmos. Corri para deixar pronto os cartazes de divulgação. Confesso que me senti cansado, contudo, recompensado.

Recompensado não somente pelo sucesso de meu trabalho. Não somente pelos textos terem agradado aos que comigo estão dando duro para a realização do encontro. Não porque o cartaz tenha sido melhorado na gráfica, e ficado muito bom! Mas por saber que todo este esforço resultará em salvação e alegria eternas para a vida de um, ou mais, dos jovens que estarão participando do evento. E não há nada mais recompensador que isto!

Sei que não há maior motivação e recompensa que a convicção, pela fé no Senhor Jesus, de que nos dias do encontro verei a glória do Senhor encher nossa escola, e, como fez com Isaias (Is.6), purificar lábios, transformar a mente, e alegrar o coração que por ela for alcançado.

Tenho plenas convicções disto. E, por isto, desdobro-me, oro, vivo intensamente estes momentos na plena certeza de que o melhor está por vir. Que maior alegria hei de ter no termino das programações, que neste inicio de caminhada. Pois, estou plenamente certo de que o Senhor tem planos para nós, como também de que estes serão vivenciados nestes dias. Tenho em meus labios as palavras de Jó: os planos do Senhor não podem ser frustrados (Jô 42.2). Já antevejo que a semeadura será feita, também, em terra pronta para o desenvolvimento da semente, e de que esta haverá de frutificar no Espírito do Senhor.

Por isto, alegro-me no dia de hoje. Por isto dou graças ao Pai. Por isto tenho um coração agradecido a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Afinal, este é o dia que o Senhor Deus fez!!! Celebremos e nos alegremos nele. Porque, o amanha, que pertence a Deus, será revelado a nós e, quando este vier a nós, veremos o fruto do nosso trabalho no Senhor.

Assim sendo, sinto-me tentado a dizer a você: em tudo daí graça! Tentado a dizer: “nunca desista de fazer o melhor para Deus, entendendo que tudo dEle vem, e tudo para Ele é feito, inclusive o nosso labor!”.

Nunca desista de fazer o melhor para os outros, na certeza de que o está fazendo para o Senhor (Cl 3. 23). Que a alegria do Senhor seja a sua, a minha, a nossa força (Neemias 8.10; Hb 3.17), de forma que sejamos sempre, sempre movidos a realizar as boas obras para as quais fomos chamados.

No amor em Cristo Jesus, Cleber B. Gouveia.
Pastor auxiliar da 1ª. IPI do Distrito Federal e Capelão do Centro Educacional Evangélico Eduardo Carlos Pereira.

02 agosto 2006

Como resolver a crise da transmissão da fé?

Há alguns dias li um texto chamado "A crise da transmissão da fé", do Rev. Ricardo Barbosa de Souza, conferencista e pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília, onde ele alerta para a dificuldade que a Igreja tem apresentado na transmissão da fé cristã genuína.
Com a crescente secularização da sociedade cristã, torna-se difícil distinguir o sagrado do profano, o justo do ímpio, pois suas obras e valores assemelharam-se de tal forma que a linha de distinção entre uma e outra tornou-se tênue ao extremo.
Hoje em dia é comum ligar a televisão e ser bombardeado por programas evangélicos onde se apresenta Jesus das mais variadas formas, do exorcista ao mercador de favores.
Muito se fala de Cristo, fala-se de sua obra, de seu amor, mas pouco se tem falado do fruto produzido por uma vida entregue a Ele. Em Jo 15:16 o Senhor nos diz que fomos designados a produzir frutos e estes devem permanecer. Como as gerações futuras poderão viver uma vida digna do Evangelho se a atual o tem relativizado? Basta ligar a televisão e ver. As verdades sagradas têm dado lugar aos conceitos de líderes que outorgam a si títulos e prerrogativas inexistentes na Palavra. O povo perdeu seu referencial. A igreja cristã como um todo se amoldou ao padrão ocidental de vida de tal forma que deixou de exercer seu papel transformador, não faz mais diferença, não salga nem ilumina (Mt 5:13,14).
Em 1 Co 1:10, Paulo nos roga a falarmos a mesma coisa e que não haja divisões entre nós para que possamos ser unidos no mesmo sentido e parecer. Infelizmente esse pedido não tem sido atendido. A multiplicidade de denominações, doutrinas, "estratégias" e opiniões, criaram uma verdadeira Babel cristã. Para uma determinada denominação, vestir-se desta ou daquela forma é pecado, para outra não, falar em línguas ou bater palmas na igreja são temas de discussões e debates que não produzem nenhum tipo de resultado. Pentecostais, neo-pentecostais, históricos, ortodoxos, reivindicam a detenção do título de "verdadeira Igreja".
Não somente os líderes religiosos têm falhado na missão de transmitir a genuína fé cristã às próximas gerações, o princípio bíblico "ensina a criança o caminho em que deve andar" (Pv 22:6) é negligenciado por muitos pais cristãos que transmitem a obrigação da criação e educação dos filhos a professores multidisciplinares. Em seu frenesi pelo crescimento profissional, pela aquisição de bens que proporcionem conforto e tranqüilidade, pela melhoria da qualidade de vida, esses mesmos pais se omitem ao seu mais precioso papel que é o de transmitir aos filhos valores e princípios Bíblicos.
A crise é real, mas não é definitiva, porque a última e decisiva palavra sempre será de Deus.
Há algumas atitudes que a igreja pode tomar com o intuito de acabar coma crise de transmissão da fé, entre elas temos:

1 – Clamar por avivamento

A igreja precisa clamar por avivamento, mas não o avivamento de mosteiro, que produz resultados entre quatro paredes. A necessidade é de um avivamento que produza resultados na vida cotidiana dos agentes do Reino, pois são esses agentes que produzirão as mudanças na sociedade quando tiverem seus valores e princípios baseados exclusivamente nas Escrituras. A igreja precisa caminhar na contramão do sistema. Deve mostrar que é diferente e fazer diferença tendo sempre em mente que, sem Cristo, nada podemos fazer (Jo 15:15).
Eu tenho esperança de que esse avivamento chegará logo, pois como diz o Rev. Jean Douglas Gonçalves, "o avivamento surge em momentos de crise".
O melhor exemplo de verdadeiro avivamento que podemos destacar foi o acontecido na Rua Azuza em Los Angeles, Eua, nos idos de1906. Na ocasião, a Igreja formal estava, como hoje, secularizada e preocupada em engrandecer pessoas, baseada mais nos homens do que no Espírito Santo. O avivamento da Rua Azuza veio como um furacão, quebrando estruturas e transformando a forma do culto. O que a igreja presenciou naqueles dias foi uma transformação que se demonstrava através de ações como: convicção do pecado e arrependimento, quebrantamento de coração, intercessão contínua pelo avivamento, vida de oração, a reunião era um encontro com Deus, não um evento social, o interesse principal era chegar-se a Ele, não havia acepção de pessoas, ricos e cultos eram tratados iguais aos pobres e ignorantes, não havia espaço para orgulho, auto-afirmação ou soberba, tinham consciência da sua pequenez, do nada saber, do nada possuir, a não ser o que o Espírito lhes ensinava e inspirava, não ostentavam as suas boas-obras, para que elas não se tornassem uma armadilha, o conteúdo da pregação era o amor e a pessoa de Cristo, não havia palavra indelicada contra os inimigos ou contra outras igrejas.
Isso é apenas um exemplo do fruto produzido por um verdadeiro avivamento.

2 – Voltar às Escrituras

Outra atitude a ser tomada pela igreja atual deve ser a volta às Escrituras, ser como o povo de Beréia (At 17:11) que buscava na Palavra a veracidade do que era pregado pelos apóstolos.
Como foi dito acima, vivemos uma Babel cristã, onde cada denominação tem seu conceito do que é certo ou errado, sagrado ou profano. O que prevalece é a interpretação do líder, não há contestação devido ao medo do pecado de rebeldia (1 Sm 15:23a).
Os líderes precisam conscientizar-se da responsabilidade que é a pregação da Palavra. Ela não pode ser usada como instrumento de manipulação do povo nem servir aos seus próprios interesses. Do mesmo modo, o povo deve estar atento aos falsos mestres e seguir o que Paulo determina em Rm 16:17,18, sabendo que o fim dos que se utilizam do púlpito com objetivos espúrios está determinado em Fp 3:19.
Vivemos num país onde se lê muito pouco. Nossos jovens têm-se alienado com o bombardeio de informações que recebem todos os dias através do rádio, da tv, internet e tantos outros meios de comunicação que transmitem e informam apenas o que é interessante para a própria mídia. Essa deficiência reflete-se na vida de leitura bíblica, que é quase inexistente. É dever dos líderes cristãos estimular seu rebanho a ler a Bíblia, a apaixonar-se pela história sagrada, por que isso produzirá uma geração consciente de sua origem, seu valor, seus princípios e seu papel na terra.
3 – Resgatar o valor do discipulado

O número de membros arrolados virou um elemento determinativo na avaliação do "sucesso" de uma igreja. O líder deve ser um excelente pregador (entenda-se: pregar o que o povo quer ouvir), ter carisma, ter uma excelente equipe de marketing e ser um bom gerenciador de negócios. Podemos encontrar este tipo de líder em cada esquina, conseqüentemente, encontramos também milhares de igrejas-empresas em que os membros são "clientes" que pagam seu dízimo fielmente e recebem em troca a promessa de prosperidade ilimitada.
Essa transformação da igreja em empresa afetou diretamente o trabalho de discipulado que é fundamental na formação da identidade cristã do novo convertido.
O Senhor nos ordenou que pregássemos o Evangelho e fizéssemos discípulos (Mt 28:19). Por que estamos negligenciando esta ordenança? Não basta apenas pregar, é preciso cuidar daqueles que se convertem ajudando-os em sua nova caminhada. Eles enfrentarão lutas, serão confrontados por familiares, amigos, correrão o risco de cair (e muitos até cairão) e precisarão de apoio, de oração, de orientação, quem os ajudará? Esse é o papel do discipulador, daquele que se dispõe a ser referencial, daquele que oferece amor e sustento bíblico. Nossas igrejas precisam investir em pessoas, não em templos, não em ostentação.


Em tudo isso, concluímos que a secularização da igreja é uma realidade, mas uma realidade passível de ser mudada, transformada, e que a crise de transmissão da fé é passageira. Precisamos de novos líderes que amem ao Senhor acima de tudo, acima da fama, do dinheiro, do status, do orgulho. Nossa oração deve ser por avivamento, por quebrantamento de coração, por retorno à Verdade Sagrada, por discipuladores conscientes de seu papel como transmissores de conhecimento bíblico, como suporte para aqueles que ainda não aprenderam a caminhar com as próprias pernas.
Eu creio na Igreja, eu creio que meus filhos herdarão valores bíblicos, e creio, acima de tudo, que o Senhor é o maior interessado na manutenção da fé genuína, e por isso mesmo esta crise passará e será apenas uma desagradável lembrança da história da igreja, assim como o foram as cruzadas, a inquisição, a noite de São Bartolomeu e a omissão diante do holocausto.
A Deus seja a Glória para todo o sempre.

Gustavo Fraga,
é membro da Igreja Presbiteriana Independente de Vila Nova, Goiânia, Goiás.