30 maio 2006

O Mundo de ponta-cabeça!

" Então Ana orou, dizendo..."


A oração de Ana em 1 Samuel 2.1-10 possui vários contornos de uma inversão do cosmos. O mundo é posto de ponta-cabeça! Os grandes tornam-se pequenos, e os pequenos são engrandecidos; os últimos encontram lugar de primazia, e os primazes tornam-se os derradeiros; os fortes são derrotados e os fracos triunfantes; os fartos padecem fome e os famintos são saciados, a estéril é agraciada com filhos e a arrogante mãe perde o vigor...
Essa inversão das grandezas pode ser percebida também no cântico de Maria: Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos (Lc. 1.52-53). No ensino de Jesus o Reino de Deus é apresentado inteiramente distinto do reino dos homens: quem se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado (Mt. 23.12, Lc. 14.11 e 18.14); os primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros. (Mt. 19.30, 20.16, Mc. 10.31 eLc. 13.30); o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve (Lc. 22.26, Mc. 9.35) e, assim, Deus oculta as coisas aos sábios e instruídos e as revela aos pequeninos (Mt. 11.25). Até que Paulo nos esclarece que esse é o caminho e o método da escolha divina: Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são... (1 Co. 1. 27-28).
Assim, é-nos demonstrado que nossos pretensos anseios de grandeza, proeminência e primazia são aos olhos de Deus desprezíveis. Primeiro, porque Deus é o possuidor dos domínios da terra. Em sua oração Ana reflete sobre a soberania e a majestade de Deus, quando anuncia que Não há santo como o Senhor; porque não há outro além de ti; e Rocha não há, nenhuma, como o nosso Deus... O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz subir. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta... porque do Senhor são as colunas da terra, e assentou sobre elas o mundo... O Senhor julga as extremidades da terra, dá força ao seu rei e exalta o poder do seu ungido. Ana, portanto, exalta o senhorio de Deus, seu domínio e poder real. Considerando que qualquer aparente e pretenso poder humano é, na verdade, concedido por Deus. Afinal é Deus quem remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes (Dn. 2.21).
Depois, porque o homem não prevalece pela sua força. São com essas palavras que Ana deflagra em sua oração o segundo motivo pelo qual nossos desejos de proeminência são aos olhos divinos descartáveis. Lendo os evangelhos percebemos que os discípulos procuram com seus próprios recursos e argumentos um lugar de status no Reino de Deus. Mas, descobrem, que entre eles, ou seja, no Reino de Deus, não seria assim. Lutero já nos alertava que a força do homem nada faz.
Entretanto, quantas vezes a igreja reproduz o reino humano e despreza o Reino de Deus. A nossa grande tentação é o domínio de uns sobre os outros, é a busca pelos primeiros lugares, pelas honrarias e holofotes. Enquanto deveríamos descansar humildemente aos padrões do Reino de Deus, cansamo-nos na batalha incessante por um lugar entre os homens. Não há como negar, as Escrituras desmontam este mundo, colocando-o de ponta-cabeça. E estabelecem um paradigma de justiça e retidão provenientes de Deus.
Rev. Jean Douglas Gonçalves

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