14 fevereiro 2007

IRA - Por Ricardo Gondim

Olá a todos...
Graça e Paz da parte de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo....
São 2 da manhã do dia 14 de fevereiro de 2007...
Neste momento, estou postando um texto de Ricardo Gondim que recebi por email...
Publico sem a devida autorização, confesso. Não consegui entrar em contato com o autor do Texto. Mas, mesmo assim, o publico, pois acredito que vale a pena correr o risco do processo. Acredito que, se pelo menos uma pessoa a mais o ler, e mudar sua forma de ser como cristão diante de tanta maldade, valerá a pena.
Por fim, o faço porque as palavras de Gondim são o que desejo falar, com um detalhe importante: capacidade de raciocíonio e análise da realidade expostas com muita clareza e maestria.
Deus o continue usando Ricardo, e queira Deus que, nós, os evangélicos, sejamos novamente alcançados pela Graça de Deus, e, assim, exortados por profetas como tens sido, para que possamos viver o lema da Reforma Protestante: "Igreja Reformada sempre se reformando".
Cleber B. Gouveia.
Segue abaixo o referido texto. Leia, vale a pena...
Por Ricardo Gondim

Sou pastor de uma comunidade cristã em São Paulo; lidero uma rede de igrejas espalhadas pelo Brasil, somando entre 20 e 25 mil pessoas; conduzo um programa de rádio diário também em São Paulo; escrevo para duas revistas de circulação nacional e, porque mantenho um site na internet, sinto-me membro da novíssima comunidade dos blogueiros.
Apesar disso, minha capacidade transformadora é pífia. Minha voz, semelhante a de milhões de brasileiros, não representa quase nada; não sou conhecido das elites, nunca estive na presença de um presidente da república e jamais usei um passaporte diplomático.
Partilho do sentimento de impotência que toma conta dos meus irmãos. Sinto-me frustrado, revoltado, irado, indignado, sei lá que expressão usar, com tudo o que ocorre na minha terra.
Assisti a eleição dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado com uma vontade louca de comprar um megafone, ir para a Brasília, e ficar gritando palavrões em plena praça pública. Tive impulso de chamar aqueles políticos arrumadinhos, empertigados dentro de seus ternos novíssimos, posando, feito jacus, para fotografias, com as palavras mais chulas da gíria portuguesa. Entendo que o jogo político é necessário; sei que disputas de poder acontecem em todas as instituições; compreendo que “ruim com os deputados, pior sem eles”.
Ninguém precisa me dar aula de democracia (sou filho de um preso político na ditadura e sei o horror dos tiranos), mas, mesmo reconhecendo a necessidade das instituições, fiquei vermelho de raiva com a inauguração do novo Congresso. Vejo meu país sangrando e os mesmos chavões sendo repetidos. Sinto que vivemos em meio a um desdém aviltante.
Ninguém mais se lembra da aluna de uma universidade do Rio de Janeiro, vítima de uma bala perdida, e que ficou tetraplégica; ninguém mais se lembra daquele senhor que chorava enquanto desenterravam seu filho de debaixo da cama de um soldado da Polícia Militar; ninguém mais se lembra da fotografia de uma adolescente se prostituindo, sentada no colo de um velho nojento do Amazonas; ninguém mais se lembra das mães que enterraram seus filhos, mortos por falta de asseio numa Unidade de Tratamento Intensivo de um hospital público. Dois dias depois das tragédias, chegam outros sinistros mais pavorosos e vamos nos acostumando; de horror em horror chegaremos no inferno preparado pelos próprios brasileiros. Querem saber? Chega...
Para mim chega, já que os evangélicos degringolaram e hoje a grande maioria dos freqüentadores dos cultos é composta de pessoas infantilizadas pela religião; noto que o movimento do qual já fiz parte não se importa com a justiça nacional, não chora com os que choram e não defende o direito dos mais frágeis. Eles se reúnem em seus auditórios com uma única preocupação: acessar o divino, para se safarem.
Para mim chega, já que vejo a elite burguesa se locupletando há séculos, sem que ninguém consiga fazê-la mudar. Ela é preguiçosa, mesquinha, egoísta e insensível à miséria que vive do outro do lado do muro de seus condomínios. A elite brasileira se preocupa prioritariamente em blindar seus carros, freqüentar desfiles de moda breguíssimos em shoppings centers, freqüentar os mesmos cabeleireiros badalados e caros das modelos analfabetas, sair, feito “papagaio de pirata”, nas páginas das revistas de fofoca e comprar roupas em Miami. Ela não está nem aí para a miséria que cresce sem parar.
Para mim chega, já que os intelectuais nacionais atolaram na irrelevância de seu esnobismo; trancaram-se em suas torres de marfim, com textos herméticos e propostas mirabolantes e inúteis dos teóricos de direita ou de esquerda.
Imóvel e impotente, tenho vontade de chutar o mastro central desse grande circo de lona rasgada chamado Brasil.
Não passamos de um povinho sem sangue nos olhos, uma nação sem brios.
Faltam poucos dias para o país parar de novo para ver as escolas de samba, patrocinadas pelo tráfico, desfilarem a nudez das mulheres mais deslumbrantes que nossa raça produziu.
Os poucos gringos com uma libido maior que o medo de morrer, vão babar. E nós, sentaremos em nossas poltronas por quatro dias, embriagados de cerveja e sexo esqueceremos que já perdemos nossa alma.
Morreu um menino e estou com asco dos brasileiros que elegeram o Clodovil, o Maluf, o Genoíno, o Palocci, o Collor, o Sarney e toda aquela farsa chamada de Congresso Nacional. Sinto náuseas e o meu inferno são os próprios brasileiros.
Morreu um menino e não posso dormir sem antes dizer que, se pudesse, diria aos meus patrícios que a nossa perversidade está transbordando a medida da ira divina.
Morreu um menino, mas o pior ainda está por vir.
Morrerão muitos outros e continuarão as mesas redondas de idiotas discutindo as fofocas do futebol.
Morrerão muitos outros e a Daslu continuará vendendo calças jeans de 2 mil dólares.
Morrerão muitos outros e alguns poucos continuarão tomando vinho de 7 mil dólares em banquetes faustosos.
Morrerão muitos outros e os pastores continuarão prometendo abrir portas de emprego para quem der dinheiro em seus cultos.
Cansei do deboche e não sei o que fazer. Estou revoltado com o cinismo e não sei para onde me voltar.
Antes que esqueça: o nome do menino era João Hélio e seus pais ainda estão chorando muito...
Soli Deo Gloria.
Você poderá ler outros textos do autor no site: www.ricardogondim.com.br

Um comentário:

  1. Anônimo11:32 PM

    Mais um dos belíssimos e realistas textos do Pr. Ricardo Gondim. Para mim, este texto reflete a realidade “nua e crua” na qual vivem milhões de brasileiros; na qual vivemos nós.
    Ricardo Gondim, de forma simples, mas verdadeira, critica o que ocorre com nossas instituições, com nossas elites, com nossos governantes, com nossas igrejas e com nosso povo.
    Poucas vezes, tenho a oportunidade de ler uma radiografia tão real de uma sociedade que esconde sua covardia, sua ignorância, seu egoísmo, sua corrupção por de trás de raras e rasas demonstrações de algumas poucas virtudes.
    Precisamos parar de nos enganar, achando que somos o melhor povo do mundo, e olhar para nossa miséria, para toda essa corrupção na qual o circo chamado brasil, juntamente com seu palhaços sem brios está mergulhado.
    Que o Senhor nos proteja.
    Nelson Calmon

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