A encarnação de Cristo se dá num contexto histórico extremamente conturbado. Quando Deus se soletra em linguagem humana, o faz numa cultura cheia de particularidades. Entre elas, a situação da mulher era desgraçadamente difícil. Observe o que estudiosos dizem sobre o contexto histórico-cultural, no que tange às mulheres na época de Jesus:
Um homem não deveria entabular conversa alguma com uma mulher na rua, nem mesmo com a sua própria esposa, e, muito menos, com qualquer mulher. Na realidade, os rabinos radicais afirmavam: É preferível queimar a lei do que ensina-la a uma mulher (Strak e Billerbeck in Champlin, 1995).
Alguns rabinos chegavam ao absurdo de afirmarem que as mulheres não possuíam alma. Outros ainda diziam que aqueles que se demorassem conversando com uma mulher por fim herdariam as chamas do inferno. Nas sinagogas, um escravo podia ler as Escrituras; até mesmo uma criança do sexo masculino podia realizá-la desde que fosse capaz, mas jamais as mulheres.
Tais fatos podem ser claramente percebidos em textos bíblicos. Por exemplo, o do Evangelho de João 4 nos mostra Jesus numa conversa com uma mulher samaritana. Percebemos a surpresa da mulher ao ver um mestre judeu se aproximar de uma mulher samaritana e estabelecer um diálogo (v.9). Aqui estava presente o estigma racial, mas também sexista. Adiante os discípulos ao perceberem o que acontecia se admiram de Jesus estar conversando com uma mulher (v. 27).
Entretanto esses paradigmas foram sendo vencidos por Cristo. Jesus jamais se deixou limitar pelas mazelas culturais emburrecidas de seu tempo. Cristo nunca se submeteu aos padrões legais que não priorizassem a vida humana. A quebra destes e outros paradigmas que causavam indignidade e morte foram enfatizadas por Jesus. Porém, quebrar paradigmas não é tão simples e casual. Paradigmas são fronteiras e Cristo enfrentou muitas oposições e embates ao atravessá-las, mas não vacilou ao ultrapassá-las.
Em Cristo percebemos a valorização da mulher. Na vida e obra de Cristo a mulher é valorizada, aceita e acolhida. O Senhor abre as portas da dignidade e permite que as mulheres entrem por ela. Enquanto a sociedade judaica do tempo de Jesus fecha os portões do perdão e da salvação, Cristo abre um caminho: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então lhe disse Jesus: nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques mais (João 8:10-11). E quando é recriminado por uma atitude de acolhimento e perdão, faz da mulher a ilustração de seu ensino ao hipócrita fariseu Simão: E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher?(...) Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco se ama (Lc. 7: 44-47).
São as mulheres que se tornam exemplos evangélicos de fidelidade. Quando da prisão, crucificação, morte e ressurreição de Cristo, enquanto todos os discípulos deixam a Jesus e fogem (Mt. 26:56), Judas o traí (vv. 47-48) e Pedro o nega (vv. 69-75), estavam ali muitas mulheres, observando de longe: eram as que vinham seguindo a Jesus desde a Galiléia, para o servir; entre elas estavam Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e de José, e a mulher de Zebedeu. (Mt. 27:55-56). E são as mulheres que permanecem diante da sepultura (v. 61) e recebem o anúncio da ressurreição (Mt. 28:5-6) e se tornam suas primeiras testemunhas (vv. 7-10).
Entre outros tantos exemplos vale mencionar que eram as mulheres que prestavam auxílio e suporte financeiro ao ministério de Jesus (Lc. 8:1-3). E que mais direi ainda? Certamente me faltará o tempo (e o espaço) necessário para referir o que há a respeito de outras mulheres que fizeram parte da História da Salvação no Antigo e Novo Testamento. Entretanto certo é que “...a mulher que teme ao Deus Eterno será elogiada...”.
Rev. Jean Douglas Gonçalves
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