06 junho 2006

Haverá mau maior que o praticado pelos homens maus? Sim, há!


"Esse homem mau pensa assim: "Deus não se importa; ele fechou os olhos e nunca vê nada!" Salmo 10. 11.

Dias atrás, vimos em São Paulo o poderio do crime organizado. Centenas de pessoas, entre elas policiais e civis, foram mortas. Neste último domingo, o guitarrista de uma banda muito famosa no cenário nacional fôra morto após tentar fugir de uma tentativa de assalto no Rio. Em Brasília, no ano de 2004, um jovem da igreja da qual hoje sou um dos pastores, morreu enquanto esperava sua namorada na porta de sua casa. Estes são alguns dos vários casos de assassinatos que revoltam e intimidam a todos nós Brasileiros. No Brasil todos os dias morrem mais pessoas em situações iguais ou semelhantes a estas, do que em guerras como a do Iraque. E não temos outra reação senão temer por nossas vidas.

Diante deste cenário, deparei-me pela manha com a leitura do Salmo 10. Havia decidido lê-lo em meu período de meditação no livro dos Salmos. Parecia-me que ainda estava nas paginas policial e de política do jornal que acabara de ler. Isto, porque no texto do Salmo 10 pude ver um cenário de corrupção, uso do poder para oprimir o pobre, e a pratica da maldade ao extremo. Vi, ainda, uma oração por justiça. O clamor de um israelita a milhares de anos atrás, mas que poderia ser a mesma suplica de um cidadão brasileiro deste presente século, ajoelhado em seu quarto, orando ao Senhor antes de dormir, clamando ao Senhor para que se despertasse diante de tanto sofrimento, de tanta maldade, de tanta injustiça.

Assim como nos dias vividos pelo salmista, nos vemos rodeados por pessoas más que não se importam com Deus, v. 4; que perseguem os pobres, v. 2, e armam seus esquemas de corrupção confiadas de que nunca serão pegas, v. 7. Por pessoas que são arrogantes, exploradoras, orgulhosas, v. 3, e que, em seus corações, possuem uma única convicção: "Deus não se importa; ele fechou os olhos e nunca vê nada!". Quão terríveis são nossos dias, exclamamos nós, em comum acordo o salmista que afirma serem, seus dias, cheios de aflições, v.1.

E é por termos tanto em comum com o autor do salmo 10, é que devemos olhar para seu cântico e contemplarmos suas palavras diante de tanta maldade, diante do sucesso de quem a pratica, pensando estar livre de qualquer reação de Deus; de que Ele não se importa com todo o sofrimento que têm provocado, v. 11. O Salmista primeiramente questiona a Deus. Pergunta ao Senhor do por quê permitir que os maus acabem tendo razão em pensar que Ele não se importar. O salmista afirma ao Senhor que O sente longe, escondido, v. 1. Ele apresenta então a Deus o que tem acontecido, vv. 2-11, e depois chama Deus para perto dos acontecimentos, dos que sofrem, e pede a Ele que reaja com severidade e justiça, v.12. Ele procura despertar a ira do Senhor lembrando-O de que não é um Deus insensível ao sofrimento e à tristeza do que se vê oprimido pelo homem mau, e de que por isto sempre esteve pronto a ajudar aos que não podem se defender, v. 14. Ele exalta o poder de Deus acima do poder dos homens maus, e pede a este que os anule, e os recrimine, até que não possam mais continuar a fazer o mau, v. 15-16. Ele se volta para Deus na certeza de que somente Este poderia ajudá-lo; de que Ele atentaria para sua oração, e ouviria o seu grito em favor de si mesmo, e dos que sofriam; de que Deus julgaria os maus, de forma que não pudessem mais espalhar o terror sobre a terra, v. 18.

E como esta oração é tão necessária nos dias de hoje. E como temos tido medo, ou seria incapacidade, de não fazê-la. Com raras exceções, e estas se fazem quando somos "a vitima” da violência, nossas bocas têm tido apenas palavras de “é assim mesmo", ou, "eu não me envolvo com isto", "as coisas só irão piorar", entre outras afirmações que, na oração do salmista, não se fizeram presentes. As palavras que revelaram o poder do mau, e o sucesso dos que o praticam, foram utilizadas apenas para despertar a ira e o julgamento de Deus, visando tirá-lO de seu "esconderijo", e não para esconder-se de tudo o que ocorria. Pelo contrário, ao fazer seu cântico, ele se expõe.

Nossa geração, porém, tem se afugentado do mau que assola nossa nação, em vez de encará-lo de frente e dizer: "Deus o destruirá, e junto com este, a todos que o praticam". Como temos sido egoístas em nossas orações, e pedido apenas por nós, por nosso bem estar, pela nossa segunça, por nossa alegria e daqueles a quem amamos, com o pensamento de que o resto cuide de si mesmo, pois não temos com ajudar, nem mesmo através da oração. Como temos sido covardes em nossas pregações, ao não expor o mau como deveríamos. Não temos desnudado os que o praticam como deveríamos, enfrentando-os com toda ousadia, como o fez o salmista. Ele não se esquivou da situação. Não evitou o confronto. Sabia que a situação era por demais difícil, além de suas possibilidades, de seu raio de ação, de seu poder de sua força. Mas tinha a consciência que não estava nem perto das possibilidades, do raio de ação, do poder, da força do Senhor dos Exércitos. Ele podia fazer algo: indignar-se, e, movido por este sentimento, orar a Deus pedindo que aniquilasse o mal. E foi o que fez!

E creio termos uma responsabilidade igual, e quem sabe maior. Pois somos o Corpo de Cristo. Nossas possibilidades, penso, são maiores que as do salmista. Pois, a plenitude daquEle que enche tudo em todas as coisas é sobre nós (Efésios 1.23); o Senhor Jesus tem todo poder sobre a terra, e está conosco (Mateus 28.19-20); a face do Pai é próxima(Filipenses 4.4); o Seu poder é sobre nós (Atos 1.8); o seu amor está posto em nossos corações (Romanos 5.5); sua vontade é conhecida, pois pensamos como Cristo (Romanos 12, I Coríntios 2.16); nossas orações são apresentadas, e amplificadas, pelo gemer do Seu Espírito (Romanos 8.26); sua vida é nossa vida (Colossenses 3.4).

Parece-me, entretanto, que nada disto tem nos movido em direção do opressor para o repreender, e do oprimido para o socorrer, e do Senhor, para o chamar a agir. Se o tem, está restrito a poucos. Mas talvez seja eu. Somente eu. Talvez seja o único que não faça nada em relação a isto, ainda que seja orar. Talvez seja somente eu aquele que não consegue olhar para os que sofrem e deles se compadecer. Talvez seja eu. Mas se o for, não o quero mais ser. E meus olhos não desejo mais fechar. Clamo neste momento ao Senhor para que olhes para o mau que se alastra de forma desgovernada, adentrando as portas dos nossos lares. Para que veja, para que sinta com os que sofrem, e se volte contra os que amam e praticam o mau, e dê cabo de todas as suas ações. Que tenha misericórdia de quem queira ter, mas que não permita que o mau triunfe mais.

Eu, portanto, nego a mim mesmo, e torno-me parte dos que sofrem com o mau, e peço: "Vem Senhor, e castiga esta gente má [...] acaba com o poder dos maus e dos perversos [...] para que os seres humanos, que são mortais, nunca mais espalhem o terror!" Salmo 10 vv. 12,15 e 18.Evitemos o mau maior que o já executado pelos homens perversos. Não sejamos omissos. Não sejamos insensíveis ao sofrimento alheio, e não nos furtemos da possibilidade de fazer a diferença em nossa geração. Somos a luz do mundo, e o sal da terra, lembram-se (Mateus 5.13)?

Como bem lembrou-me minha amiga e irmã em Cristo Jesus, Lidiane Rocha, Martin Luther King, que lutou contra o mau de seu tempo, tem algo a nos dizer nesta direção: "O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons." E acrescento a estas palavras, outras ditas por Júlio Paulo Zapatiero, em seu artigo intitulado A corrupção do poder político e o Deus que ouve o clamor, publicado no site Teologia Brasileira, no dia 24 de junho de 2005:

"...São indispensáveis as ações do povo de Deus na denúncia dos crimes e pecados no exercício do poder político. Mas elas devem ser acompanhadas constantemente do anúncio da absoluta prioridade do bem maior como razão de ser das instituições estatais. Denunciar e anunciar, com perseverança incansável, são ações políticas que o povo de Deus pode realizar sem ser delimitado por opções partidárias [...] Se Deus é o Deus que ouve o clamor (Êxodo 2.24; 3.7-9; etc.), o seu povo também deve limpar seus ouvidos para ouvir o clamor das pessoas que gemem, sufocadas pelos dejetos da corrupção que corrói o bem e a justiça." http://www.teologiabrasileira.com.br/Materia.asp?MateriaID=155 .

Diante de tudo que vi, e falei, minha oração neste dia é: "Senhor Jesus eu lhe peço: Tu que está assentado no trono, e cujo nome está acima de todo nome que há na terra, ajuda-nos a sofrer com os que sofrem, a chorar com os que choram, para que possamos depois sorrir com os que alegres estão. Apregoa o Teu ano aceitável entre os pobres, e anuncia aos que estão presos, sua liberdade. Restitui a vista aos que estão cego, e não somente aos acometidos de cegueira física, mas também espiritual, e liberta os oprimidos, pois, seu tempo chegou, e seu povo será salvo! A nós, seu povo, eu peço, usa-nos em tudo isto que há de fazer, para nossa alegria, e para o louvor, honra, e glorificação de Seu Santo nome, amém!"

No amor em Cristo Jesus, Cleber B. Gouveia, pr.
Capelão do CEDECAP, e Pastor Auxiliar da Primeira IPI do DF

Um comentário:

  1. Anônimo2:40 AM

    Oi querido. Quanta dor e opressão podemos ver nessa geraçao. Pessoas totalmente rendidas ao mal. Pessoas se odiando e se matando. Como Jesus nos alertou " No mundo tereis aflições", mas Ele também nos traz o alivio, " Ele venceu o maligno". Eu creio que a sua, a minha, em fim toda a igreja de Jesus, orando, clamando e chorando aos Pés da Cruz, todo mal será cessado, os inimigos cairão, e todo joelho se dobrará e todo língua confessará que só Ele é SANTO, SANTO, SANTO, SANTO. Amém!
    No amor em Cristo Jesus. Cleu

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